Berlengas
As Ilhas dos meus Sonhos
Desde pequenino que tenho uma adoração
pelas minhas Ilhas e sempre que posso faço uma visita que sempre me deslumbra que
faço novas descobertas e sempre as encontro
para me encantar
Hoje não
vos vou falar da sua fauna marinha que tanto tem para ser dita e explicada, nem
das suas aves, e’ de uma historia verdadeira da qual sou o protagonista e que vós
certamente gostarão de saber como ainda
a posso descrever minuciosamente revivendo os tempos da minha meninice , fazendo a vontade de alguns/algumas
facebooquistas que com ” flash “ me tem
pedido no Face Book para contar o que se passou tantos anos atrás .
Naquele tempo … ia quase todos os fins
de semana às Berlengas para receber os livros e os cadernos de apontamentos que
me trazia o meu grande Amigo Constantino Varela Cid para eu em Peniche poder
acompanhar o progresso dos alunos da Escola de Pesca de Lisboa que fui obrigado a abandonar , derivado a uma
doença contagiosa nos olhos e que tinha
o nome de conjuntivite granulosa vulgo “
tracoma “ .
Naquela época já’ a Berlenga Grande era
frequentada quase durante o ano todo por pescadores que durante a semana faziam
as mais diversas capturas de pescado e crustáceos que de uma maneira geral eram
vendidos nos fins da semana na lota de Peniche.
Os turistas
que já insipidamente apareciam , eram oriundos de diversas classes sociais
altas os quais permaneciam já durante dias na fortaleza que durante a época de
verão estava sempre mais ou menos
composta com os seus poucos quartos
quase sempre lotados e contavam-se nesses tempos historias, ou assistia no meu
caso às mais bizarras historias de amor de alguns dos seus ocupantes destacando-se de entre eles o Senhor doutor ….. que com as suas sobrinhas
eram assíduos fregueses nos verões majestosos berlengueiros .
A Família
Conceição da Cerca - se estou bem certo do seu nome - era quem
confeccionava e fazia a orientação hoteleira e culinária durante a época de Verão e todos nós sentíamos o seu calor
familiar que tratava todos os seus “hospedes “ e pescadores que num sentido de
entre ajuda faziam a delicia a todos , nas suas maravilhosas estadias .
Também quase todos os fins de semana uma formosa menina aparecia na Ilha
e era bonito para mim vê-la passar quase fugidia parecendo que sempre
alguém lhe queria fazer mal ,nem dava quase tempo a ver a sua cara .
A
‘ Princesa vamos lhe dar esse nome – adorava apanhar banhos de sol no
cerro do Carreiro da Fortaleza que a’ maré baixa tem uma área grande aonde ela
sozinha se deliciava durante mais de uma hora a
bronzear-se sem que alguém se
aproximasse .
Varias vezes vi, a Sereia e sempre tinha o desejo de estar perto
daquela figura que de cá’ de longe em
cima do cais da fortaleza ou no morro
junto a’ porta da fortaleza admirava
como às escondidas pois ela se reparava que alguém a estivesse a admirar saia do cerro e abordava a terra próximo a’ “gruta
da venca “ aonde , quando tinha sede eu me ia saciar com
a frescura da sua preciosa agua , e desaparecia nos meandros misteriosos
das grutas da nossa ilha .
Naquela manha cerca das onze horas um sol
quase ardente convidava a um bom banho e consequente bronzeamento natural e verifiquei que já lá’ estava a
Princesa aproveitando as delicias da Mãe
Natura para ficar mais bela .
Eu nunca tinha estado em cima do cerro
pois o acesso pela ilha não era muito convidativo e eu como não sabia nadar não
me afoitava aonde eu poderia perder o pé’.
Como
tinha vivido em Lisboa ate’ aos meus doze anos poucas vezes tive ocasião de ir
a’ praia e quando regressei a Peniche já
um ” matulão “ um autentico homem feito não me sentia confortável com os meus
amigos a nadar na Prainha do Abalo para aprender , pois eles gozavam comigo
quando me viam esbracejar e assim fugia
aos seus convites da praia .
Mas
naquela manha o mar estava rasinho como um lençol estendido na relva a corar e
a maré estava tão vazia que me convidava a aproximar daquela figura que de certo modo me cativava e devagarinho comecei as apalpadelas por causa
dos fundões e com pé’ encima de uma baixa ou mais um fundão , lá
consegui sem problemas de maior chegar ate ao cerro.
A Princesa parecia que dormia
profundamente somente a sua cabeça de
vez em quando se movia sem sequer abrir os olhos e de pé junto a ela comecei com os olhos bem
abertos a apreciar aquele corpo esbelto
que pela primeira vez tinha ocasião de apreciar .
Sem ela
se aperceber sentei-me a seu lado e verificando que não havia movimento algum
do seu corpo deitei-me a seu lado guardando uma respeitosa distancia.
E o tempo
foi-se passando sem eu de facto tomar conta que já estava ali a’ mais de uma
hora, quando senão os seus olhos se abriram e como em pânico levantou-se e dando
um mergulho nas aguas cristalinas nadou com todo o vigor em direcção das
escadas do pequeno cais. E foi então que eu verifiquei que já estava mais ilhado
!.
Como me e’ natural não perdi a minha concentração
olhando para Fortaleza e esperando que talvez ela ainda olhasse para mim
para lhe
indicar que não sabia nadar, ela desapareceu sem voltar a cabeça na minha direcção.
Naquela mais de uma hora em que
estivemos juntos sem ela saber , a maré’ que estava de enchente subiu e eu
fiquei numa terrível situação. Ainda pensei ficar esperando por alguma lancha que
passasse , o que não era muito normal ,para me retirar daquela situação mas optei por tentar atravessar aquela
pequena distancia que apesar de ser pequena era para mim sem fim.
Observando atentamente aonde eu teria mais
oportunidades de sobreviver comecei a travessia e após diversas vezes de recuar
pois os fundões submergiam-me, esbracejando, caindo aqui e levantando –me acolá
consegui estar-vos agora a contar esta historia a qual não esquecerei durante a
minha vida .
Não sei o por que, eu pelo menos não
sei , nunca falamos um com o outro acerca deste assunto ou de outro qualquer e
apesar de frequentemente nos cruzarmos
embora eu sempre olhando –a de cabeça erguida ela põem a cabeça em baixo , ainda duas vezes
lhe dei a salvação mas ela não retribuiu .
Esta menina que se tornou importante na
Cidade aonde mora , por mérito próprio e sua inteligência apesar de ser de condição social normal,
talvez com as suas exponencias sociais
mais elevadas que a vida lhe deu nunca fez questão de confraternizar com este
pescador de Peniche mas eu quando passo por ela , sem me ouvir , eu digo-lhe sempre
:
Bom dia, ou boa tarde Senhora ! .
P.S.
Nesta magnifica
fotografia que Raul Valdez gentilmente me cedeu podem verificar
bem as tais lajes que me ajudaram a salvar a minha vida nos
anos de 1943 .
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
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