sábado, 22 de dezembro de 2012

Natal 1950 - 2012

                                                        Natal    1950 --- 2012

              Não e' masochismo meu estar a falar sempre em Misérias  mas sim tentar lembrar  e comparar os tempos antigos , com os tempos modernos , dos nossos dias em que a abundância grassa para alguns  e a quase mendicidade impera nos mais desprotegidos da sorte que nestes dias também não conseguem infelizmente granjear alimentos suficientes nesta data Festiva de Natal.
Vamos supor que estes nomes são fictícios ou reais conforme vos der a paciência para me lerem ate ao fim, não vou ser longo , como de costumo, os meus contos de Natal lêem-se em poucos minutos ......

                Manuel tinha sido chamado para servir o exercito  pois  todos os anos , os jovens masculinos tinham o Dever de Honrar a Pátria   com o serviço militar obrigatório  pelo menos durante dezoito meses de serviço com brilho e dedicação.
                  Os tempos não estavam bons em Peniche monetariamente durante mais de seis meses ninguém tinha conseguido apanhar peixe que desse para ser vendido na lota, pois se alguma traineira conseguia apanhar meia dúzia de cabazes eram logo distribuídos no mar pelas restantes embarca coes   que eram logo denunciadas pelas gaivotas que mal forca tinham já para voar .
O vendaval pelo seu lado batia constantemente a costa  e mesmo  correndo a costa , nas praias ou nos sítios pedregosos raramente se podia encontrar algum peixe que com a fúria do mar morria e dava   a' costa , era a miséria da fome negra que os pescadores de Portugal ciclicamente sofriam todos os anos
              Se por acaso alguém pudesse encontrar algum safiosito ,uma peixe espada ou um peixe de outra espécie qualquer  era a alegria em mostrar o troféu e se conseguisse repartilhar com algum familiar ou visinho a boa nova era tema de conversa para alguns dias .
             As poucas  cartas  que a Genovesa conseguia enviar para o Manuel - não era fácil ter dinheiro para comprar o selo - eram muito desanimadoras   e a renda de bilrros de Peniche que durante o mês  conseguia fazer de manha a' noite nunca dava para terem um almoço mais confortável .
 As Mulheres das fabricas  conserveiras só trabalhavam dois três dias por semana  pois os seus patrões  ainda tentavam mitigar a falta da sardinha e a's vezes generosamente mandavam caiar e fazer limpezas quase desnecessárias  para assim darem alguns escudos  ao fim da semana
          O  Natal aproxima-se e a situação financeira agravava- se cada vez mais
Manuel servindo na Escola Pratica de Artilharia  estava castigado ,não podia sair do Quartel  pois tinha sido apanhado a ler um livro pelo instrutor que dava as li coes no curso de cabos e esperava desesperadamente para ser enviado  para Elvas para pelo menos durante três anos  acarretar agua com um barril  que não aguentava a agua  e partindo de um morro mais alto quando chegava ca' abaixo  ja' não trazia agua nenhuma .   
        Era já esta a sentença lida pelo  Primeiro Sargento que lhe dizia que quando mais depressa fosse cumprir a pena mais depressa regressaria a casa depois do ccastigo cumprido  .       
  Em todas as refeicoes que lhe eram servidas Manuel  que era forte como um raio , não conseguia conter umas lágrimas  que furtivamente  deslizavam pela sua face, pensando que enquanto ali comia  uma refeição que ate' não era muito ma' para quem era obrigado a gostar , sabia  que a'quela hora sua Mulher e seu pequeno filho certamente pouco tinham , ou nada para comer .
          Na véspera de Natal Manuel não quis ir para a formação da parada aonde todos se formavam antes de  entrarem  no refeitório , alegou que estava doente  e como castigo teve que ir dar baixa na enfermaria  e la esteve ate aos primeiros dias do ano novo, a comer caldos de galinha .
            Foi com grande alegria que passada uma semana lhe chegou a' mão uma tão esperada carta , cuja foi lida com  ânsia terrível pois desejava sempre que noticias de pesca abundante  pudessem  alegrar  todos .
             As pescarias continuavam muito ma's , dizia a carta mas foi com um pouco  de alegria  que leu   :
Manecas  passamos a  véspera de Natal na nossa casa . Estava uma noite fria e ventosa  em que não se podia sair de casa e pensei que que não seria bom ir com o menino para a casa dos meus  pais  e fui para casa da nossa vizinha Matilia para assim fazermos a renda a' luz do mesmo candeeiro um acordo que fizemos para assim pouparmos algum petróleo  e como o José estava a pescar com o barco do tio no Algarve a Matilia  estava com fe' que o seu Homem pelo menos no dia de Natal  pudesse chegar a casa  pois  todos queriam vir para Peniche. Eram já mais de onze horas da noite ouvimos um grande estrondo na porta da casa e dai a poucos segundos  a porta escancarou- se  e apareceu o José com uma grande peixe espada quase do tamanho dele , foi uma grande alegria .
            O Jose logo amanhou a peixe espada e eu ainda fui a casa rebuscar um fio de azeite para juntar ao resto da Mabilia que ainda da garrafa pingou . Posta logo na frigideira com uns salpicos também de sal, comemos com pão que o José tinha comprado .
A peixe espadaa era tao gorda que quando se acabou de fritar a frigideira tinha mais molho do óleo que a peixe espada deitou e logo apoveitamos para eles no outro dia ja' terem  a gordura para fazerem um refogado de arroz  que ainda existia em casa .
          Foi uma farturinha na noite de Natal !!! ......
Manuel já não consegui ler o resto da carta e com lágrimas copiosas banhando o seu rosto ,olhando para o céu disse balbuciando :
 Obrigado meu Deus pelo milagre que fizeste !!!

 Um Santo  Natal o mais possível para todo Mundo

Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada            Natal de 2012



 

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