Cortesia Raul Valdez
António da Conceição Bento
Futura sala e museu das renda bilrros
Exmo Sr . Comandante Silvano Ribeiro
e a Greve dos pescadores de Peniche
17-9-59 ------1961----- 27-2-62
Ao tomar conhecimento aonde se iria edificar a futura sala e museu das rendas de bilros veio – me a’ lembrança mais um episodio da Historia da Primeira Greve dos Pescadores de Peniche , da qual vos dou conhecimento , para que conste na historia de Peniche .
Quando de noite já' horas mortas alguém batia a' porta era sempre com preocupação que me levantava para perguntar quem era .
Mesmo o roçar das ervilhas de cheiro que tinha nos canteiros das janelas aos lados da porta de entrada, no Bairro dos Pescadores , nas noites de nortada rija era motivo para me levantar e ver se alguém da Policia Internacional de Defesa do Estado , vulgo PIDE , me estava a fazer alguma visita .
Naquela noite alguém estava batendo a’ porta, era já mais de uma hora da manha mas pelo bater na porta pensei que talvez fosse gente de paz pois a P.I.D.E segundo me diziam iam de noite mas batiam suavemente nas portas dos seus fregueses pois não queriam que a vizinhança acordasse sobressaltada .
Era o meu Amigo Jorge marinheiro e eu aproveitei em jeito de recriminação dizer-lhe :
Tem que se acostumar a bater a’ [porta como gente civilizada para não acordar a vizinhança , ao que ele me respondeu :
Vista-se depressa pois tem que ir dar agora uma volta por Peniche…
Vesti as calcas pois dormia de ceroulas e já’ quando na Rua perguntei-lhe o que se estava a passar ele disse me para montar a bicicleta e que o seguisse.
Não lhe disse mais nada mas pensando da maneira que o Jorge me falava parecia haver algures algum problema .
Da minha casa ate’ ao portão da Vila foram só’ uns minutos e sem pararmos demos a volta e seguimos pela rua principal , subimos ate a’ Igreja de São Pedro dando a volta a’ igreja passamos pela casa do Sr. António da Conceição Bento aonde o Jorge abrandando um pouco , o vi a olhar com atenção para todo o prédio .
De seguida fomos em direcção a’ Ribeira e ai paramos para descansar alguns minutos e foi ali que indaguei porque era que o Jorge e eu íamos como doidos a dar aquela volta ?
- Não sei , foi o Sr. Comandante que me pediu para ir a’ sua casa dar esta volta consigo e pedir-lhe para ir a’ Capitania pois o Sr. Comandante espera lá por si.
Como as ordens não se discutem montamos nas bicicletas e dirigimos para a Capitania .
Quando me preparava para bater a’ porta verifiquei que a porta estava somente encostada e entrando dirigi-me logo ao gabinete do Sr. Comandante Silvano Ribeiro que muito calma mente deixando o livro que estava a ler me disse
Então , Manuel passa-se alguma coisa de extraordinário em Peniche ?
Que eu achasse , nada de especial encontrei para me chamar a atenção a Vila dorme calmamente Senhor Comandante
Pedindo-me licença fez uma ligação via rádio e ouvi dizer . Como eu já vos tinha dito Há’ calma absoluta em Peniche , agora pode fazer o que entender e sem mais conversa pediu ,com licença e desligou a conversação .
E foi então que o Sr. Comandante Silvano Ribeiro me contou a historia de toda desta confusão:
:- Há’ quase uma hora o Comandante das Forcas de Intervenção da Policia ‘ já’ equipada com espingardas metralhadoras G3 , instalado discretamente já havia mais de duas semanas na área de Óbidos’ telefonou-me e perguntou-me o que se estava a passar em Peniche, pois o Sr. Presidente da Câmara Sr. António da Conceição Bento tinha-lhe telefonado que os pescadores de Peniche estavam –lhe a assaltar a casa .
Disse –lhe que me admirava que tal estivesse a acontecer pois o Manuel Joaquim Leonardo certamente me avisava do que se estava a passar . Eu sugeri que não começassem a avançar sem eu certificar me pessoalmente do que se estava a passar , eu próprio vou ver na Ribeira se há alguma movimentação . Se dentro de uma hora eu não voltar a contactar será’ sinal que algo de grave estará’ a acontecer e depois façam o que tiverem ordens para fazerem .
Pedi ao Jorge para verificar se tu estavas em casa e se estivesses que dessem uma volta para eu saber se de facto tudo estava calmo e saber o que sucedeu . ..
Logo nessa noite fiquei a saber pelo próprio causador do problema o que tinha acontecido pois quando sai da Capitania voltei a passar pelo prédio do Sr. António da Conceição Bento e ouvindo vozes altas na direcção da igreja da Nossa Senhora da Conceição segui para lã’ e encontrei um Homem embriagado que estava a cantar acordando aquela vizinhança .
Desapeando –me da bicicleta e chegando ao pé ‘ dele comecei a cantarolar dizendo –lhe que eu cantava melhor do que ele e aos poucos consegui calmamente leva -lo em direcção da sua casa no Caminho do farol.
Foi entretanto que ele me disse que tinha arrastado uma folha de chapa que estava a tapar uma entrada provisória duma porta do prédio que na ocasião o Sr. Presidente tinha em obras .
E foi assim que pessoas que queriam Paz e mais condições sociais abortaram uma acção bélica que certamente se fosse iniciada poderia trazer consequências e mau estar imprevisível
Com os melhores cumprimentos
Manuel Joaquim Leonardo !3 de Maio de 2013
Peniche Vancouver Canada
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