domingo, 4 de março de 2012

Energia das ondas


I
Foto: Enric Vives-Rubio
Os Estaleiros de Peniche podem desempenhar um importante papel nesta área de actividade
Peniche tem projecto que aproveita energia das correntes marítimas
04.03.2012
Carlos Cipriano
Mais do que a produção, o objectivo da instalação, que tem o apoio da União Europeia, visa desenvolver uma tecnologia que possa expandir este tipo de energia que é renovável e limpa.
Aproveitar as correntes submarinas do fundo do mar para produzir energia eléctrica é o objectivo do projecto Waveroller, de tecnologia finlandesa, que vai instalar no mar de Peniche uma plataforma com três módulos capazes de produzir 300 kilowatts-hora (KWh).

O software e grande parte do hardware são, obviamente, finlandeses. Os portugueses têm a seu cargo os trabalhos de montagem final e preparação da fixação da estrutura ao fundo do mar, que é da responsabilidade dos Estaleiros Navais de Peniche.

Os trabalhos estão em curso desde Janeiro e, em Maio, deverá ser depositado a três milhas (cerca de 5km) da praia da Almagreira (Baleal), a uma profundidade de 25 a 30 metros, a estrutura sobre a qual assentam três asas que se movem ao sabor das correntes, e que estará ligada a terra por um cabo submarino pelo qual será transportada a energia eléctrica que será injectada na rede da REN/EDP.

A receita assim obtida será residual, como residual é também a quantidade produzida. Trezentos KWh é menos de 10% da capacidade de um moinho eólico, mas Carlos Mota, administrador dos Estaleiros Navais de Peniche, recorda que isto é pura I&D (investigação e desenvolvimento) e que não é por acaso que se trata de um projecto financiado pela Comissão Europeia, através do 7º Programa-Quadro.

O objectivo é, pois, experimentar, aperfeiçoar, optimizar, de modo a que mais tarde se possa produzir mais e melhor tecnologia e expandir esta fonte de energia, que é renovável e limpa, porque não tem quaisquer impactos ambientais negativos. Nem sequer paisagísticos, porque os equipamentos estão no fundo do mar.

Denominado Surge - Simple Underwater Renewable, o projecto tem como parceiros a AW Energy Oy, que lidera, e a Multimart Oy e a ABB Oy, todos finlandeses. A parte portuguesa é composta pela Câmara Municipal de Peniche, Estaleiros Navais de Peniche, Instituto Hidrográfico, Centro de Energia das Ondas e a empresa do grupo Lena Eneólica. Há ainda um parceiro alemão (Bosch Rexroth) e outro belga (Instituut voor Infrastructuur).

António José Correia, presidente da Câmara de Peniche, eleito pela CDU, disse ao PÚBLICO que foi contactado pelos finlandeses em 2006. "Eles tinham uma ideia de que a costa desta zona tinha condições interessantes para acolher este tipo de projectos e eu disse que faria sentido utilizar as competências locais na área dos estaleiros e no mergulho", lembrou. A autarquia tem actuado também como "agente facilitador" na ligação com a administração central, procurando obter as autorizações e licenciamentos necessários numa área sobre a qual não há praticamente legislação por ser muito inovadora.

Mais 25 mil horas

Para os Estaleiros Navais de Peniche, que sofreram nos últimos meses uma quebra nas encomendas, este projecto não é um negócio da China, mas representa, ainda assim, 25 mil horas de trabalho. Mais importante, contudo, é que, se isto resultar, esta empresa poderá vir a ser o embrião de um cluster idêntico ao que é hoje o da energia eólica.

Para 2013 os finlandeses projectam instalar uma versão pré-comercial com uma capacidade de 5 MWh, ou seja, 17 vezes mais do que a da plataforma agora em construção.

Os estaleiros penichenses são a maior empresa privada de construção naval do país e tiveram em 2011 um volume de negócios de 15 milhões de euros, mas o seu administrador não quis divulgar os resultados líquidos, limitando-se a enfatizar que, "apesar do momento de recessão económica, foram positivos na ordem das centenas de milhares de euros".

A empresa de construção naval conta, actualmente, com 120 trabalhadores, mas ainda no Verão passado eram 220. Carlos Mota explica que esta redução se deveu à também quebra do volume de trabalho que ocorreu no segundo semestre de 2011.

Notícia corrigida às 13:08. Corrigidas as nomenclaturas Kilowatt e não quilowatt. E a percentagem no quarto parágrafo de 1% para 10%

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