domingo, 23 de fevereiro de 2014

                                                                          Linda Fotografia

      Linda fotografia mas muitas mas recordações .
Estávamos no calor quente da primeira e única  greve dos Pescadores de Peniche nos finais dos anos de 1950/60.
      Naquela manha  cerca de uns duzentos pescadores de Peniche espalhados  pela área do cais  e muitos também encostados a' parede da Fortaleza , olhavam para as embarcações paradas no Porto de Peniche e preocupados com a demora , bastantes meses ja' na altura sem ninguém ir para o mar  e apanhar sustento para seus filhos e Familiares .
      As gaivotas  umas rodopiando por cima das nossas cabeças  e um certo grupo delas  que poisadas junto de nós nos seguiam piando ,parecendo-nos dizer :
Quando tudo se vai resolver para vocês poderem ir para o mar e trazerem- nos a nossa comida que vós fraternalmente partilham muitas das vezes connosco ?  

         Alguém reparou que para os lados do Sul ainda muito longe se aproximava uma embarcação
Como já todo o mundo português já tinha conhecimento que o porto de Peniche estava de greve todas as embarcações que passavam ao longo da nossa costa evitavam aproximar ou entrar no Porto.
         Por mim pensei que seria uma lagosteira francesa  que se aproximava para se por ao abrigo da Fortaleza para reparar alguma pequena avaria
Com a sua aproximação todos nos reconhecemos que não era nenhuma lagosteira francesa mas derivado ao modo de arquear os seus mastros podia’se ver que não era embarcação das áreas de Sines para o Norte de Portugal

 Foi com grande expectativa que vimos a embarcação  entrar no Porto , fundear a meio deste e a mandando  a sua chata ao mar se dirigiu para a rampa de descarga e dela viu’se saltar para terra uma pessoa nossa bem conhecida e admirada ,nada menos ,o Mestre Chalica  .O mais discretamente aproximei -’me dele e em voz baixa  disse-lhe :

Mestre Chalica o Sr. não atraque a chata , salte para dentro dela e vá a’ Nazaré ou São Martinho do Porto ,embarcar em bidões do gasóleo que precisa para chegar a Matosinhos o seu local de destino como o Sr. me esta’ a explicar ,  Entretanto  já quase todos os pescadores que estavam na área, se encontravam na rampa do salva vidas e ouviam a conversa .

O mestre Chalica já’ um pouco indignado enfrentando  de olhos nos olhos os pescadores disse :
Há algum filho da P..a que me impeça de a minha campanha saltar em terra ? saltem para a terra !!!...

Ainda mal o ultimo camarada tinha o pé’ em terra e logo os pescadores de Peniche já estavam agarrados a chata e só pararam com em ela mesmo contra a parede da Fortaleza .
E tudo ficou resolvido da melhor maneira .

No dia seguinte o Sr. Horácio um dos donos da traineira o Novo São José matriculada no porto de Faro ? não estou certo, foi dar conhecimento e pedir ao Sr. Comandante se autorizava a sua embarcação a sair do Porto , pois ela ia destinada a fazer a safra em Matosinhos . O senhor Comandante do Porto Silvano Ribeiro pediu a esse Senhor que esperasse um pouco que já voltaria a falar com ele nessa manha.
Entretanto os pescadores já’ se encontravam as centenas  ou milhar no Largo do Pelourinho  aguardando a saída do dono da embarcação .

O senhor comandante Silvano Ribeiro tinha dado ordens ao Cabos de Mar e seu ajudante que me procurassem assim como os outros dois pescadores, o António da Liliana e o Chuvas  para ir-mos a’ Capitania
Comigo deram depressa pois eu estava ali já’ para ver como as coisas decorriam e o ajuntamento com pescadores mulheres e ate’ crianças já enchia completamente o largo do Pelourinho mais de três mil pessoas  segundo cálculos de quem observou tudo das janelas da Câmara Municipal de Peniche . Eu ainda não tinha falado com o Senhor Comandante depois do que se tinha passado no dia anterior  .

Eu entrei juntamente com o Senhor Horácio  e o Sr. Comandante perguntou aonde estavam eles . Como era natural disse-lhe que não sabia pois eles estavam sempre recolhidos porque receavam  as represálias da PIDE , só’ se aproximando quando eu lhes diziam que deviam estar presentes .
 O senhor Comandante  foi logo ao assunto e perguntou-me se eu sabia o que se tinha passado e eu expliquei-lhe exactamente sem omitir palavra alguma dizendo que eu tinha sido o único   interlocutor dos pescadores nessa situação.

      Entretanto alguém bateu a’ porta do gabinete e o Senhor Comandante pedindo - nos  desculpa por entre portas trocou umas breves palavras com alguém.
Sem se assentar pediu-nos para chegarmos junto da sala de entrada e dali ver todas aquelas milhares de pessoas  que já se encontravam apinhadas .
 Eu sabia , tinha visto que  se encontrava somente um policia ali de serviço .
      Como os meu colegas não aparecia  o senhor comandante  disse-me :
Precisamos de uma resposta o que e’ que tu dizes ?

Eu disse-lhe que da maneira que os ânimos estão tão alterados  penso que desde já todos devem ficar a saber que o barco não poderá ‘ sair enquanto estivermos em greve.
O comandante Silvano Ribeiro voltando-se para o Senhor Horácio disse-lhe que achava a solução mais sensata  e assim estava decidido.


 O senhor Horácio  acompanhado sempre por mim ao seu lado começou a descer a escadaria da Capitania debaixo de ameaças e alguns chegaram a dizer … ainda se vai a rir , ainda se vai a rir !!.
Conheci muito bem por longos anos  esse senhor de grande seriedade mas  de facto ele mesmo quando não falava tinha sempre uma fisionomia risonha e parecia que estava sempre com o sorriso na cara.

Chegados junto da sua bicicleta que tinha deixado ficar no lancil do passeio junto ao Pelourinho cinco ou seis pescadores mais enfurecidos estavam a empurra-lo não o deixando montar a bicicleta . o que me levou a gritar :


Não  batam neste Homem  !!!      primeiro teem que me matar !!!


Neste espaço de tempo ele montou a bicicleta e empurrado por mim conseguiu pedalar e desaparecer dali, não sem que ele e eu não levássemos  uns bons pontapés


P.S.
 Quando passado um mês fui a António Maria Cardoso pedir para soltarem os nossos colegas que foram presos pela PIDE foi me dito que eu era também tão bom que ate’ tinha batido num armador.
Possivelmente alguém que observou tudo dos altos das varandas da Câmara  disseram-lhes que eu tinha batido nele.
( por casualidade 16 dias depois de ter ido pedir a’ P.I.D.E. ,os nossos colegas foram soltos )

Passados mais de 30 anos precisei de ir a terra desse senhor para falar com quem me pôs o alarme em casa e quintal .Num café fui la’encontrar o Sr. Horácio que cumprimentando a minha Mulher que não conhecia essa pessoa lhe disse :
Estou certamente aqui agora vivo porque o seu marido arriscou bem a pele para me salvar.

Estava somente um policia mas se a situação se agravasse e que o senhor policia tentasse manter a ordem , certamente telefonariam da Câmara e um possível massacre poderia ter ocorrido . Em Óbidos , dentro de uma propriedade já’ se encontrava uma então  moderna brigada de choque que já tinham espingardas metralhadoras  que ainda não tinham sido servidas e estavam a’ espera para avançarem (ver meu escrito António da Conceição Bento )
Com os melhores cumprimentos, sou o
Manuel Joaquim Leonardo     12-5-1929.. 23-2-14
Peniche Vancouver Canada   fielamigodepeniche.blogspot.com

Sem comentários:

Enviar um comentário