sexta-feira, 26 de abril de 2013

Historias que o tempo nao apaga

                                                                                 


                                                               Historias que o tempo não apaga

     Hoje não me sinto muito satisfeito e de uma maneira geral vou com nostalgia a minha velha arca dos meus tesouros e ao calhar retiro uma das paginas soltas que já baforentas e amareladas do tempo fazem parte da minha vida  ...
      A pesca não tinha sido abundante  poucos mais de cem cabazes que tinham sido espalhados  aos montinhos que quase pareciam iguais na areia da praia  da Figueira da Foz , logo depois da entrada da barra , e  junta  a estrada marginal .
A sardinha apanhada havia pouco mais de uma hora  , junto a' costa logo ao virar do Cabo Mondego para o Norte em frente a' Serra  da Boa Viagem parecia que ainda queria saltitar na área prateada  que nos servia de estendal  para fazermos  a descarga e vendagem do pescado apanhado .
      Numa manha de Junho soalhenta  do ano de 1954 ,com o mar bailando de encontro aos molhes da barra , era um cenário ideal para os ja' muitos veraneantes  e população local que ao longo da estrada passeando se inebriava com  a azafama  de pescadores e compradores que esperavam que começasse a venda da sardinha .
 E era interessante para eles ouvirem  a cantilena do vendedor que  anunciava um primeiro preço base  alto , para cada monte de peixe e numa cantilena em números descendentes chegava ao chuiii do comprador que depois dizia quantos montes queria comprar
       Logo as varinas que se encontravam esperando  já de saias puxadas para cima  e atadas a volta da sua cintura  calcando uma meias de la compridas mas sem pés ,para amenizar a frieza da agua do mar, pondo nas nacas  de rede uma porção de sardinha entravam pela agua dentro e com movimentação forte  dentro da agua a sardinha ficava descamada e pronta a ser salgada para de seguida ser enviada para a venda já nas diversas localidades do pais
As gaivotas esvoaçando no local em grande numero  tentavam apanhar alguma sardinha que por qualquer motivo saia  para fora da naca e as algazarras gritantes e seus voos rasantes faziam o delírios dos espectadores  que assistiam sem arredar pé  do anfim teatro . deslumbrante de graciosidade e natureza
       A sardinha para venda local , ou próxima ,de uma maneira geral era vendida  com quanto mais escama melhor para assim se verificar a sua apresentação e frescura do dia .


        Depois de vendido o pescado a traineira e pescadores seguiam para a pequena doca , umas centenas de metros acima  junto ao Jardim , preparavam o seu almoco comum , caldeirada e dormiam algumas horas ate' voltarmos a sai para o mar . Eu dividia o quinhão dos meus camaradas que era logo dividido por cabeça e só depois de cumprir essa missão e' que era quando agarrando na minha cesta do farnel e garrafão do vinho  ia me aviar para comprar pão ,fruta  e vinho .
        Ja' todos os meus camaradas dormiam ou descansavam nos seus poucos beliches  ou  deitados no chão de tabuado do "leito" -repartição que tínhamos para descansar- , quando agarrei na cesta e fui para a terra aviar -me .
        A  meio de atravessar,  já nessa época a Avenida bastante larga vislumbrei algo caído na estrada a uns vinte metros de mim  que me chamou a atenção.
 Aproximei-me e vi caída no chão  uma pasta de cabedal como alguns dos meninos mais ricos levavam ja' os seus  livros ,cadernos e equipamento escolar ,necessário na época . Olhei ao meus redor e não vi nenhuma pessoas ou bicicletas na estada  e como era natural na altura não a deixei la' no meio da estrada .
        Abria  a minha cesta e  levei-a . Como de costume levei a comprar os meus mantimentos mais de meia hora e chegado ao meu barco fui fazer umas esquilhas de molhinho para eu comer Entretantanto peguei na pasta que estava ao meu lado enquanto fiz o comer e como estava fechada a' chave  meti os meus dedos da minha mão direita  e apalpei uns papeis ,
Com dois dedos e arrastando puxando para cima consegui retirar um papel que era nada menos de uma nota de quinhentos escudos  !!! Calculem a minha admiração !!
        Meti novamente os dedos e procurando tirei para fora uma nota de cincoenta ?, vinte escudos ? não tenho a certeza mas tenho completamente a certeza que não era de quinhentos escudos ... entretanto as esquilhas foram comidas e eu estava num dilema . A mala tinha dinheiro  e eu não queria ficar com aquela pasta , mas eu não tinha ainda a certeza a quem a deveria entrega  se a' policia ou a' entidade marítima . Voltei a por o dinheiro que tinha retirado dentro da pasta . entretanto ja' se teriam passado mais de hora e meia desde que encontrei o dinheiro .
        Foi então quando comecei a avistar ao longe talvez um sujeito que caminhava com  uma bicicleta a' mão .aguardei ate' chegar mais próximo de mim e comecei a verificar  que um senhor de fato inteiro de bone' na cabeça olhava para todos os lados na estrada  a vagarosamente arrastava a bicicleta  e pensei !!! E' capaz de ser o dono da pasta Vesti uma camisola bastante larga que usava por ultimo na minha lida do mar , era bastante folgada .e meti a pasta bem encostada a mim .
Ele entretanto estava a chegar perto de mim e dirigindo-me a ele disse-lhe :
Então senhor como vai ? perdeu alguma coisa ? ... Deixe-me da mão , estou desgraçado perdi a mala do dinheiro do banco.. Estou desgraçado... Diz -me chorando       . Desabotoando dois botões da camisola e puxando a pasta para fora devagarinho disse-lhe , E' isto que esta a' procura ? ainda não tinha feito a pergunta toda e já puxando a pasta da minha mão ,pôs-se  em cima da bicicleta sem sequer me agradecer e desapareceu em poucos minutos  ...!!! .
     


          Estive sem voltar a' Figueira da Foz cerca de 4,5 anos mas quando voltei quis tentar saber algo mais do meu mistério,.
Assim como tinha que trocar dinheiro para fazer o pagamento do quinhão aos meus camaradas  e lembrei me da direcção que esse senhor tinha levado fui ver se encontrava um banco por  ali
 La'  bastante adiante estava um banco . Entrei pedi para me trocarem dinheiro por favor e depois de estar servido perguntei ao caixa que existia somente no banco  se alguma vez um cobrador vosso perdeu algum dinheiro ?  Um so'  ? ja' foram dois  disse -me com cara de riso .
Então parece-me que fui eu que encontrei - essa ultima pasta ha' uns 4,5 anos   !! Virando se para trás de si e gritando para os seus poucos colegas , disse : Foi este rapaz que encontrou a pasta !!!
           Todos se aproximaram e eu  contei-lhes o que se tinha passado
Ja' me estava a despedir lembrei-me de perguntar quanto e' que a mala tinha .
 Um deles disse-me  , Então  não sabe quanto a mala tinha ? espera uns minutos que já lhe digo

 A mala tinha sessenta e oito contos  ,,, e mais alguns trocos que não me lembro exactamente
Dava para fazer na epoca três casas novas como eu na época fui estrear na Casa dos Pescadores de Peniche .
Poderia esta historia ter um epilogo mais feliz  mas infelizmente acabou mal. o protagonista da historia ficou transtornado com o sucedido e infelizmente teve de sair do serviço .

Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada                                 26 de Abril de 2013

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