quinta-feira, 4 de abril de 2013

Portinho do Meio

                                                                                     


                                             Foto Carlos Tiago                               
                                                            

                                                             
                                                                     O meu Portinho do Meio

       
O reencontro com o meu Portinho do Meio nunca me foi muito desejado pelas  poucas boas recordações   que eu tinha com ele e as que tinha eram  somente minutos molhando os pés numa Prainha imunda  que apesar de perto de um areal imenso  aberto ao   mar de uma areia branca  prateada  que logo na  saida da embocadura  do Portinho do Meio  fazia a delicia dos poucos veraneantes que frequentavam na época a praia de Peniche ( 1941)
        Mais ao longe acerca de pouco mais de mil metros já defronte aos Medoes  Grandes , a já' elite de  Peniche  e os forasteiros que  nos visitavam montavam umas insípidas barracas e toldos que na ocasião se contavam pelos  dedos das mãos  e já fazendo a demarcação das classes  se deliciavam nas suas aguas    cristalinas , na imensidade  do areal que se avistava ate a’ Consolação .
        A praia dos Medoes  com uma inclinação suave  em que se entrava pelas aguas dentro  ate ao pescoço sem perdermos o pé’   , as Praia Norte de Peniche de Cima  e Baleal eram as praias mais lindas e seguras   de Portugal já’ nessa época,  e terra inspiradora de  escritores  ( Raul Brandão 1867 - 1930 )… e poetas  sendo nos dias de hoje a delicia dos nossos magníficos  fotógrafos. prata da casas e centenas de outros que nos visitam

      No Portinho do Meio nos dias das grandes pescarias  em que as já traineiras enchiam o pequeno porto de Peniche  varando  as areias  ate a’ porta da taverna do Capadinho , quando em maré de enchente as embarcações que chegando mais atrasadas  ao porto , tentavam fazer a sua descarga no Portinho do Meio.
 E era vê-las  sempre com o motor a trabalhar tentando passar a Ponta da Investida  para poderem tomar a melhor posição para  sempre forçando ,  num roncar de motores , acompanhar a maré de enchente  e assim facilitar a descarga do seu pescado .
      Com o constante trabalhar das hélices formavam –se grandes fundões  que era a arrelia dos pescadores que descarregando os cabazes com agua às vezes ate ao pescoço iam caindo nas suas covas  ficando submergidos ate conseguirem ganhar pé e poderem andar mais rápidos  no  vai e vem da sua descarga  .
 As tripulações das traineiras tinham uma regra  de rodagem entre si  dos serviços que de cada vez que traziam pescado  eram servidos  rotativamente pelos pescadores e assim haviam principalmente três  cargos definidos que eram seguidos a’ risca :
     Serviço nas cavernas  que designavam aqueles pescadores para apanharem o peixe no convés ou nos porões enchendo os cabazes para serem descarregados para fora do barco.
De seguida  eram os pescadores  “homens da agua “que recebiam os cabazes dentro da agua e levavam os cabazes do peixe  ate passarem os cabazes para os outros pescadores  já em seco que os levavam  ate aos armazéns destinados, cujos tinham comprado o peixe .
      Haviam também os “ homens das chapas   “ que tinham por missão receber por cada cabaz um chapa indicativa de modo diferente  de cada comprador  para assim saberem quantos cabazes tinham sido descarregados naquele definido armazém .
      Naquela época o pior trabalho na descarga do peixe  era  aquele em que os pescadores carregavam os cabazes dentro de agua e passavam aos  pescadores já em seco.
      Embora sendo um trabalho  rotativamente feito pelos pescadores muitos  falavam a outros homens  de terra e principalmente  das terras próximo que alguns ate faziam disso  modo de vida em complemento com algumas culturas  que faziam nas suas aldeias  .
Esses descarregadores eram pagos  pelo valor dos  carretos que os  pescadores em serviço de  “homem de agua” recebiam que   assim perdiam aqueles escudos que tanta falta lhes fazia mas entendiam que era melhor para a sua saúde não fazerem esse serviço dentro de agua .

    Nessa data eu tinha 12 anos de idade  e chegado de Lisboa ,era um homem feito já tinha quase 1,70 cm de  altura mas não tinha trabalho e fui fazer a descarga dos “homens de agua “ e senti com essa idade quanto de difícil e cruel era a descarga do peixe dentro de agua .
Numa  maneira geral a descarga do peixe em Peniche era feita de noite  ou logo de manhãzinha .
 Nas  noites ou nas manhas    frias  de  inverno era sempre com um frio cortante  que nos cortava a pele a’ saída da agua – sentíamo-nos  melhor   dentro de agua – mas quando saímos  da agua  para entregar os cabazes  corríamos   logo de volta para dentro da agua  se havia alguma demora na entrega dos cabazes ,
     E assim ate parte   dos meus treze anos de idade foi o trabalho que fiz  descarregando milhares de cabazes das mais diversas espécies  de peixe ou trabalhando no convés ou porões  das traineiras de Peniche  
Como medalha destes meus bons serviços  e durante os muitos anos que descarreguei peixe nas nossas traineiras ganhei um calo no ombro esquerdo  de cerca de 3X5 X3 cm de altura que ainda ate aos meus  60 anos de idade fazia parte da minha estrutura física  e que ainda hoje verificando minuciosamente se nota .
       E foi com a linda publicação no Blogue Cabo Carvoeiro do distinto fotografo Carlos Tiago que vendo aquelas covas me lembrei dos tempos passados mas e’ também com imensa  consternação  que verifico que todo o trabalho que tem sido feito na recuperação estética do Fosso das Muralhas  esta’ a ser inglório, pois por essas fotografias publicadas no Blogue , se vê o quanto de errado la foi construído ou reparado.
 Eu estava la  em Peniche  e assisti a’ apresentação do plano  descritivo e diversos  planos de execução ,com a devida pompa e circunstancia  e quando me foi possível  dar palavra fiz umas observações e ideias esquisitas que não caíram bem em alguns dos assistentes .Mais uma vez todos aqueles que me depreciaram infelizmente na ocasião podem confirmar  que eu estava vendo os problemas  como deviam ser vistos para bem de Peniche e de todos os executantes envolvidos no projecto  Talvez seja assunto para ventilar num futuro próximo pois como sempre  talvez ninguém  me vira contradizer .
 Ate sempre com os melhores cumprimentos  assino
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada 

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