Capitulo 4
As Folhas do meu Destino
Cheguei as portas de Lisboa sem mais nenhumas novidades, a tirada não tinha sido muito longa e quando já me encontrava próximo da Penitenciaria de Lisboa no Alto do Parque Eduardo VII encontrei-me de frente a frente com um Policia de Segurança Publica que olhando-me um pouco admirado, talvez por ir descalço mas eu não me perturbei e chegando-me ao pé dele tirei um pequeno papel do bolso com o nome e a direcção das pessoas amigas para onde me ia dirigir e disse-lhe :
-Por favor o Sr. podia-me dar uma indicação por onde terei que ir para chegar a casa dos meus familiares e entreguei-lhe um pequeno papel muito legível aonde eu algumas horas antes tinha escrito o nome e a morada em caso de ser abordado pela policia e ele sem levantar algum problema , deu-me a indicação que de ante mão já eu a sabia .
O meu Amigo Desconhecido já me tinha dito que se a policia me dissesse alguma coisa por andar descalço , que eu dissesse que não sabia que não se podia andar descalço em Lisboa mas amanha já vou comprar umas botas ou sapatos e mostrava logo o dinheiro.
Não foi preciso mentir e o Sr. Policias deixou-me ir embora sem mais delongas .
A surpresa foi grande para a Sra. Dona Cristina quando me abriu a porta e ver-me descalço, já quase de noite aparecer á sua porta
Mandou-me entrar e disse-me logo, vai para a cozinha que eu vou fazer alguma coisa para comeres, pois tu com certeza ainda não jantastes.
Entretanto apareceu-me o Sr. Pina que ao ver-me disse logo :
- O que se passa contigo?
- Sou eu que pensei vir para Lisboa para tentar arranjar trabalho pois em Peniche não arranjo nada …..
- Vai comer, dormir e amanha quando regressarmos do trabalho com mais vagar nós conversamos .
- Sr. Pina eu amanha muito cedo queria ir á Ribeira Nova , pois eu ouvi dizer lá em Peniche que algumas traineiras andavam a pescar e a vender o peixe em Lisboa e pode ser que traga algum peixe para nós comermos .
- Se quiseres ir não há mal nenhum, ainda te lembras do caminho para lá chegares ?
Lembro-me sim senhor e pode ser que calhe bem.
De madrugada, depois de comer uma sandes de queijo pus-me a caminho e logo em pouco tempo passei por uma longa fila de pessoas que em bicha pareciam que esperavam por alguma coisa .
Quando cheguei junto delas a minha curiosidades foi mais forte do que eu e indaguei a um rapaz : O que estão a aqui a fazer a esta hora que ainda nem sequer é dia ?
- Estamos esperando que o armazém abra as portas para nós comprarmos aquilo que eles tiverem para vender, e depois vamos de porta em porta para ver se alguém quer comprar. aquilo que compramos aqui e noutros lados para depois vendermos.
Eu sabia que em Peniche também tínhamos que ir para a bicha mas tínhamos umas senhas que diziam o que nós podíamos comprar .
Em Lisboa talvez a abundância era mais e haviam estes armazéns que vendiam o que sobejava do outro dia sem senhas e assim apareceram os candongueiros – pessoas que compravam para voltarem a vender e assim ganharem bom dinheiro.
A guerra já tinha acabado mas nós população ainda estávamos a sofrer com a escassez de comestíveis, sabão, óleos, petróleo e tudo mais que precisávamos.
Até chegar á Ribeira Nova ainda passei por mais dois locais com pessoas em bicha .
Quando cheguei á Ribeira já lá estavam dois barcos ,enviadas de Sesimbra e Setúbal com peixe no porão e no convés atracados á espera de abrir a lota . Estas enviadas eram embarcações pertencentes ás mesmas firmas das traineiras que lançavam a rede e apanhando peixe punham nestas embarcações que partiam para terra enquanto essas traineiras continuavam no mar da pesca e se apanhavam mais, seguiam mais tarde para irem vender o peixe
Haviam também outros barcos enviadas que eram individuais e percorriam a área da pesca perguntando se as traineiras precisavam dos seus serviços.
Foi com grande surpresa que vi uma traineira de Peniche vir a atracar e bem na proa da embarcação consegui ver o meu irmão José que nela trabalhava .
Certamente o meu irmão ficou admirado de me ver em Lisboa mas teve também logo a feliz ideia de agarrar numa “ nassa “- um grande camaroeiro com uma entrada em arco de ferro ou vime de marmeleiro que nós usávamos para encher os cabazes para se depois acarretar -. E pondo de parte em cima da casa da maquina esperou que os compradores comprassem o peixe para assim finalmente, mo pudesse dar.
Antigamente em Lisboa os compradores com o barco atracado á barcaça da lota entravam nos barcos com uma grande vara na mão e em jeito de sondagem com essa vara calculavam quantos cabazes de peixe tinham nos porões ou nos ” bailéus “– compartimentos em que era dividido o convés que era destinados a encher de peixe .-mas depois dos compradores entrarem no barco ninguém podia tirar peixe do convés
O meu irmão passou-me o peixe já com o barco a anda e ali fiquei com uma boa teca de sardinha vivinha quase a saltar .Logo apareceram varinas e compradores a oferecerem dinheiro e uma varina deu o lance mais alto 120$00 cento e vinte escudos mas quando ela me pagou eu disse-lhe para ela me dar 110$00.
Dai a pouco veio outro barco de Peniche que eu costumava trabalhar e um camarada fez-me sinal se eu queria peixe para comer, fiz-lhe sinal com a cabeça que sim e ele tirou meio cesto de sardinha que levei para casa dos meus amigos.
Na volta para casa comprei umas alpergatas e passei pelos armazéns que tinha visto as bichas mas que agora já não havia ninguém á espera, entrei no primeiro e perguntei se ainda havia alguma coisa para comprar responderam-me que não tinham nada mais naquele dia. Na segunda paragem tive um pouco de sorte e venderam-me quatro barras de sabão azul e branco .Disse que não tinha casa em Lisboa e queria vender duas barras de sabão as outras seriam para levar para Peniche mas não sabia aonde as vender ..
Logo um rapaz que estava lá ao fundo do armazém a trabalhar veio ter comigo e disse-me: Olha entra pela porta de serviço de um prédio e sobes para o primeiro andar bates a uma porta e com certeza te aparecerá uma criada e tu perguntas se querem comprar as duas barras de sabão.
Assim o fiz e logo a primeira pessoa que me atendeu perguntou--me se eu não tinha mais sabão ou qualquer coisa para vender .
Acabei por vender as quatro barras.
O rapaz no armazém disse-me para não vender por menos de 15 $ 00 escudos mas eu pedi 20$00 escudos e ela foi falar possivelmente com a Senhora ou a governanta e aceitou dizendo que quando tivesse mais coisas para vender que voltasse que ela certamente comprava algumas coisas.
Eu tinha comprado por 10$00 e tinha vendido por 20$00 escudos a barra ,tinha sido um bom negocio !!!.
Continua REGRESSO A PENICHE
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
28 de Setembro de 2012
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