quarta-feira, 19 de setembro de 2012

As folhas no meu Destino

                                     As Folhas no meu Destino 

Capitulo segundo
Continuação
………Logo no dia seguinte depois de ter esta conversa com o meu irmão enchi-me de coragem e disse ao senhor António que era só mais um mês a vender cautelas .
O senhor António disse-me que eu é que resolvia o que eu entendesse  mas ele iria mandar vir mais  jogo para vender e assim na ultima semana repeti ao meu irmão António o que já havia muito tempo eu tinha estipulado.
Serenamente o meu irmão disse-me  :
Se não venderes o jogo e deixares  o Sr. . António enrascado eu vou  ajustar contas
contigo   e como premio terás  um ensaio de pancada que te vais lembrar  enquanto fores vivo ! !!
 O meu irmão António até  aquela  data  nunca me tinha tocado com algum tabefe embora algumas vezes já o tivesse merecido , mas ….
          Meditei toda aquela noite em varias circunstancias de como a minha vida novamente poderia estar pronta para mais uma  mudança  em que derivado alguma rajada de vento poderia fazer cair  as folhas da arvore do  meu Destino .  e levarem-nas para parte incerta ..
         Antes da  barbaria abrir, um pouco antes das 9 horas , já eu esperava pelo Sr. António para fazer contas do jogo vendido da semana anterior  e assim fiquei com pouco mais de quinze escudos  que era referente a percentagem estipulada que ganharia consoante o fruto da minha venda  da lotaria  .
        Apressadamente fui para casa e deixando dez escudos do vencimento do meu trabalho agarrei numa pequena saca na qual tinha os sapatos  e umas peças de roupa que anteriormente tinha escolhida como muito carinho e pondo o saco a tiracolo  , benzi-me e sai de casa
Olhando para o lado em que meu Pai e minha Mãe estavam a trabalhar na fazenda - as minhas irmãs e irmão já estavam na fabrica  havia já algumas horas . com os olhos rasos de lágrimas , quase sem voz a sair da garganta disse-lhes –  perdoai-me meu
Pai e minha Mãe e persignando –me disse - lhes :
Adeus ate um dia  …..
           Como era costume ao passar pela capela  do meu Senhor no Calvário  e de Nossa Senhora da Ajuda  persignei-me  e pedi-lhes a Sua Ajuda nesta aventura que escolhi  e que ainda não sabia onde iria parar ..
Era pouco mais de meio dia , parei junto de uns vendedores de frutas e vegetais , na vila  da Lourinha  e com uns poucos tostões  comprei fruta para todo o dia  e foi ai que contei  os poucos escudos com que me meti ao caminho , fruto das minhas economias que juntava quando acarretava  ou apanhava  nas cavernas o peixe nos barcos em Peniche .
           Em principio já tinha escolhido novamente  Lisboa para começar a trabalhar em qualquer actividade em que principalmente pudesse ganhar dinheiro para as minhas despesas   e sempre pensando que o Sr. Pina e a Senhora  Dona Cristina  que me adoravam como filho seu que não tinham , me dessem dormida nem que fosse no chão em cima das passadeiras da sala de jantar , ate possível emprego de cama e mesa e roupa lavada
Queria pelo caminho ir á povoação de nome  Turcifal onde tinha lá o meu primo António que estava   trabalhando como caseiro , nas propriedades de um abastado agricultor, pernoitar lá e no outro dia bem cedo meter-me ao caminho para Lisboa .
           Já depois da lourinha  fui ultrapassado por outro caminhante que ia em direcção a Torres Vedras  e juntando –me com ele  caminhamos   largas horas juntos
O Senhor que eu tentava acompanhar tinha cerca de 1,60 , 1, 62  m de altura  e sempre com um  passo certinho ,  eu tinha de vez enquanto de dar uma corridinha para eu o poder alcançar  , pois eu ficava sempre para trás .
           Este senhor indicou- me um caminho para encurtar caminho para o Turcifal e eu tomei conta num livrinho de apontamentos  que me restava dos meus tempos de Lisboa  e sem problemas de maior era quase noite quando cheguei ao Turcifal .
Quando contactei com o meu primo António a primeira pergunta que ele me fez  foi se os meus pais sabiam que eu ia a pé a caminho de Lisboa , como devem calcular eu menti-lhe , infelizmente .
          Era época de vindima e assisti a um pormenor interessante.
Esse agricultor tinha diversos armazéns  em que parece que armazenava os vinhos dos seus conterrâneos  para mais tarde venderem . Os apontamentos que fazia era nos próprios cascos que consoante as medidas eram vazadas ficavam   registados com 4 riscos verticais  e um outro risco  que  perpendicularmente  atravessava os quatro e assim indicavam que tinham sido vazadas cinco medidas . Ficava um espaço e depois continuavam com aquelas marcações  feitas com um pau de giz  ate encherem os cascos . Achei estranho e perguntei ao meu primo como aquilo funcionava e ele explicou-me o melhor que pode :. Os cascos alguns tinham o nome do proprietário do vinho , outro eram somente marcas desenho que os seus donos punham pois nem sequer sabiam ler , o meu primo também me disse que o dono da propriedade pouco sabia  mas as contas no final batiam sempre certo , pois ele já ali estava havia mais de seis anos e nunca houve alguma reclamação  !!!. Infelizmente este meu primo também não sabia ler nem escrever
          Por reverencia, talvez  derivado ao meu primo ter assento á mesa de jantar  fui
convidado a comer com eles  e reparei que sentada noutra pequena mesa estava uma garota possivelmente  um ano ou  dois mais nova do que eu que me pareceu que estava  estudando  pois a mesa estava com livros e cadernos escolares .
          O pai chamou-a para a mesa e ela disse-lhe que ainda tinha umas coisas para fazer mas o pai obrigou-a a sentar-se á mesa connosco .
No final do jantar a rapariga foi estudar e eu aproximei-me dela e observei o que ela estava a estudar  e fiquei a saber que tinha passado para a quarta classe nesse ano  mas já estava a estudar nos livros que a professora lhe tinha cedido para ela aprender em quando estava de ferias  e agora ia já entrar por dias novamente , pois as ferias já tinham acabado
         A Ana nome da minha companheira na ocasião  estava  a estudar matemática  e ela disse-me que tinha dificuldade de resolver os problemas .Aproveitei a oportunidade e comecei a ver se ele sabia as tabelas todas de somar, multiplicar , dividir ,diminuir , convenientemente e verifiquei que ela não as sabia dizer correctamente .
 Disse-lhe que ela deveria aprender a tabuada toda convenientemente pois sem saber a tabuada não poderia resolver os seus problemas  e repeti-lhe  diversas vezes que para se ser bom em matemática a chave principal era saber muito bem a tabuada e depois iria ver que saberia e compreenderia  melhor  a difícil disciplina da matemática .
       Perguntei –lhe se ela dava muitos erros gramaticais e ela respondeu-me que dava alguns,expliquei-lhe que deveria principalmente fazer muitas copias do livro da escola  e estudar bem a tabuada e depois veria que tudo lhe seria mais fácil.
       Perguntou- me de onde eu era  e para onde eu ia , disse-lhe que era de Peniche ,terra que ela não conhecia  que ia para Lisboa para arranjar trabalho.
Ana disse-me que não fosse para Lisboa  que ela pediria ao seu pai para me dar trabalho pois eu sabia ler e escrever e o seu pai precisava de alguém para fazer a escrita dos seus negócios ,ele andava a falar nisso , e se eu ficasse que ate lhe ensinava as coisas da escola .
_ eu vou já falar com ele .
Disse-lhe que tivesse calma mas eu ia para Lisboa , disse-lhe que um dia voltaria para os visitar e queria que ela me prometesse que ia estudar muito para que quando eu voltasse saber que ela tinha ficado bem na quarta classe e se pudesse ,  continuar  a estudar que seguisse , pois era muito bom para ela
       Fui-me deitar para o palheiro como estava combinado mas de manha quando estava já a beber café e uma sandes das quais levei umas para a viagem  Ana apareceu e disse-me que estava ali para me agradecer e despedir-se de mim. Agradeci-lhe a sua atenção e  já na rua Ana  pediu-me para eu voltar , e furtivamente deu-me um beijo na cara 
Respondi-lhe que um dia voltaria para ver toda a Família  .
Infelizmente nunca mais voltei .
continua
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
19 de Setembro de 2012

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