As Folhas no meu Destino
Capitulo segundo
Continuação
………Logo no dia seguinte depois de ter esta conversa com o meu irmão enchi-me de coragem e disse ao senhor António que era só mais um mês a vender cautelas .
O senhor António disse-me que eu é que resolvia o que eu entendesse mas ele iria mandar vir mais jogo para vender e assim na ultima semana repeti ao meu irmão António o que já havia muito tempo eu tinha estipulado.
Serenamente o meu irmão disse-me :
Se não venderes o jogo e deixares o Sr. . António enrascado eu vou ajustar contas
contigo e como premio terás um ensaio de pancada que te vais lembrar enquanto fores vivo ! !!
O meu irmão António até aquela data nunca me tinha tocado com algum tabefe embora algumas vezes já o tivesse merecido , mas ….
Meditei toda aquela noite em varias circunstancias de como a minha vida novamente poderia estar pronta para mais uma mudança em que derivado alguma rajada de vento poderia fazer cair as folhas da arvore do meu Destino . e levarem-nas para parte incerta ..
Antes da barbaria abrir, um pouco antes das 9 horas , já eu esperava pelo Sr. António para fazer contas do jogo vendido da semana anterior e assim fiquei com pouco mais de quinze escudos que era referente a percentagem estipulada que ganharia consoante o fruto da minha venda da lotaria .
Apressadamente fui para casa e deixando dez escudos do vencimento do meu trabalho agarrei numa pequena saca na qual tinha os sapatos e umas peças de roupa que anteriormente tinha escolhida como muito carinho e pondo o saco a tiracolo , benzi-me e sai de casa
Olhando para o lado em que meu Pai e minha Mãe estavam a trabalhar na fazenda - as minhas irmãs e irmão já estavam na fabrica havia já algumas horas . com os olhos rasos de lágrimas , quase sem voz a sair da garganta disse-lhes – perdoai-me meu
Pai e minha Mãe e persignando –me disse - lhes :
Adeus ate um dia …..
Como era costume ao passar pela capela do meu Senhor no Calvário e de Nossa Senhora da Ajuda persignei-me e pedi-lhes a Sua Ajuda nesta aventura que escolhi e que ainda não sabia onde iria parar ..
Era pouco mais de meio dia , parei junto de uns vendedores de frutas e vegetais , na vila da Lourinha e com uns poucos tostões comprei fruta para todo o dia e foi ai que contei os poucos escudos com que me meti ao caminho , fruto das minhas economias que juntava quando acarretava ou apanhava nas cavernas o peixe nos barcos em Peniche .
Em principio já tinha escolhido novamente Lisboa para começar a trabalhar em qualquer actividade em que principalmente pudesse ganhar dinheiro para as minhas despesas e sempre pensando que o Sr. Pina e a Senhora Dona Cristina que me adoravam como filho seu que não tinham , me dessem dormida nem que fosse no chão em cima das passadeiras da sala de jantar , ate possível emprego de cama e mesa e roupa lavada
Queria pelo caminho ir á povoação de nome Turcifal onde tinha lá o meu primo António que estava trabalhando como caseiro , nas propriedades de um abastado agricultor, pernoitar lá e no outro dia bem cedo meter-me ao caminho para Lisboa .
Já depois da lourinha fui ultrapassado por outro caminhante que ia em direcção a Torres Vedras e juntando –me com ele caminhamos largas horas juntos
O Senhor que eu tentava acompanhar tinha cerca de 1,60 , 1, 62 m de altura e sempre com um passo certinho , eu tinha de vez enquanto de dar uma corridinha para eu o poder alcançar , pois eu ficava sempre para trás .
Este senhor indicou- me um caminho para encurtar caminho para o Turcifal e eu tomei conta num livrinho de apontamentos que me restava dos meus tempos de Lisboa e sem problemas de maior era quase noite quando cheguei ao Turcifal .
Quando contactei com o meu primo António a primeira pergunta que ele me fez foi se os meus pais sabiam que eu ia a pé a caminho de Lisboa , como devem calcular eu menti-lhe , infelizmente .
Era época de vindima e assisti a um pormenor interessante.
Esse agricultor tinha diversos armazéns em que parece que armazenava os vinhos dos seus conterrâneos para mais tarde venderem . Os apontamentos que fazia era nos próprios cascos que consoante as medidas eram vazadas ficavam registados com 4 riscos verticais e um outro risco que perpendicularmente atravessava os quatro e assim indicavam que tinham sido vazadas cinco medidas . Ficava um espaço e depois continuavam com aquelas marcações feitas com um pau de giz ate encherem os cascos . Achei estranho e perguntei ao meu primo como aquilo funcionava e ele explicou-me o melhor que pode :. Os cascos alguns tinham o nome do proprietário do vinho , outro eram somente marcas desenho que os seus donos punham pois nem sequer sabiam ler , o meu primo também me disse que o dono da propriedade pouco sabia mas as contas no final batiam sempre certo , pois ele já ali estava havia mais de seis anos e nunca houve alguma reclamação !!!. Infelizmente este meu primo também não sabia ler nem escrever
Por reverencia, talvez derivado ao meu primo ter assento á mesa de jantar fui
convidado a comer com eles e reparei que sentada noutra pequena mesa estava uma garota possivelmente um ano ou dois mais nova do que eu que me pareceu que estava estudando pois a mesa estava com livros e cadernos escolares .
O pai chamou-a para a mesa e ela disse-lhe que ainda tinha umas coisas para fazer mas o pai obrigou-a a sentar-se á mesa connosco .
No final do jantar a rapariga foi estudar e eu aproximei-me dela e observei o que ela estava a estudar e fiquei a saber que tinha passado para a quarta classe nesse ano mas já estava a estudar nos livros que a professora lhe tinha cedido para ela aprender em quando estava de ferias e agora ia já entrar por dias novamente , pois as ferias já tinham acabado
A Ana nome da minha companheira na ocasião estava a estudar matemática e ela disse-me que tinha dificuldade de resolver os problemas .Aproveitei a oportunidade e comecei a ver se ele sabia as tabelas todas de somar, multiplicar , dividir ,diminuir , convenientemente e verifiquei que ela não as sabia dizer correctamente .
Disse-lhe que ela deveria aprender a tabuada toda convenientemente pois sem saber a tabuada não poderia resolver os seus problemas e repeti-lhe diversas vezes que para se ser bom em matemática a chave principal era saber muito bem a tabuada e depois iria ver que saberia e compreenderia melhor a difícil disciplina da matemática .
Perguntei –lhe se ela dava muitos erros gramaticais e ela respondeu-me que dava alguns,expliquei-lhe que deveria principalmente fazer muitas copias do livro da escola e estudar bem a tabuada e depois veria que tudo lhe seria mais fácil.
Perguntou- me de onde eu era e para onde eu ia , disse-lhe que era de Peniche ,terra que ela não conhecia que ia para Lisboa para arranjar trabalho.
Ana disse-me que não fosse para Lisboa que ela pediria ao seu pai para me dar trabalho pois eu sabia ler e escrever e o seu pai precisava de alguém para fazer a escrita dos seus negócios ,ele andava a falar nisso , e se eu ficasse que ate lhe ensinava as coisas da escola .
_ eu vou já falar com ele .
Disse-lhe que tivesse calma mas eu ia para Lisboa , disse-lhe que um dia voltaria para os visitar e queria que ela me prometesse que ia estudar muito para que quando eu voltasse saber que ela tinha ficado bem na quarta classe e se pudesse , continuar a estudar que seguisse , pois era muito bom para ela
Fui-me deitar para o palheiro como estava combinado mas de manha quando estava já a beber café e uma sandes das quais levei umas para a viagem Ana apareceu e disse-me que estava ali para me agradecer e despedir-se de mim. Agradeci-lhe a sua atenção e já na rua Ana pediu-me para eu voltar , e furtivamente deu-me um beijo na cara
Respondi-lhe que um dia voltaria para ver toda a Família .
Infelizmente nunca mais voltei .
continua
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
19 de Setembro de 2012
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