As folhas no meu destino
Chegado havia pouco da Cidade os meus dias eram muito monótonos na minha já vila de Peniche . Quase não conhecia alguém e mesmo os meus companheiros de brincadeiras eram muitos escassos , pois tendo vivido os meus sete anos anteriores na nossa capital. em Lisboa , visitando por uma única vez Peniche , a minha Família e o meu Amigo José Varredor cujas memorias com ele estavam sempre vivas pois ele já me deixava montar e cair do seu burrito , estava perante entre os meus poucos rapazes vizinhos como um ilustre desconhecido .
E mais desconhecido ficava quando ao domingo me viam passar calcado ,de calça e casaco a caminho da Igreja da minha Nossa Senhora da Ajuda aonde tinha sido baptizado na pia benta doze anos atrás e eles coitados mourejando nas suas fazendas ao redor miravam-me de olhos baixos quase não tirando os olhos daquilo que estavam a fazer .
Como infelizmente sabia que eu era para ficar nesta minha linda Vila talvez por longos anos ,pensei em cativar amizades ,amigos de Peniche como tantos tinha nessa Lisboa que motivos diversos ,mais uma vez me tinha sido madrasta ., e assim com o pouco peixe que era apanhado nessa época que era pouco mas de muito valor , eu acarretando os cabazes ou apanhando o peixe das cavernas dos barcos ,consegui juntar dinheiro para comprar um rolo de guita – fio de linho fino mas resistente - uma folha de papel sedoso muito bonito que era já nessa altura fabricado com bonitos padrões e confeccionando um lindo papagaio consegui chamar a mim a miudagem e os maiores
que em fila me pediam pela sua vez de pegar na ponta do cordel e sentirem uma satisfação estranha de tentar manter no céu o meu bonito papagaio
Para minha arrelia e perante a risota dos meus companheiros na passagem de testemunho - entregarem ao rapazinho seguinte o pequeno bocado de cana no qual estava amarrado o fio do papagaio -, atrapalhavam-se e deixavam fugir por entre as mãos o papagaio que descontrolado ia cair muitas centenas de metros , no meio das searas de trigo , cevada ou algum pouco milho que se avistavam ao nosso redor
Todas estas brincadeiras eram ao domingo para eles , eu como não trabalhava na fazenda de meu pai , porque dizia eu , não gostar , tinha o tempo livre para tentar na Ribeira angariar algo que me pudesse ajudar no sustento parco da minha Família .
* *
Hoje o meu irmão António quando chegou a casa depois de mais um dia de trabalho na fabrica , disse -me que tinha uma novidade para me dizer :
O Sr. Marreco que vendia a lotaria , jogo da Casa da Sorte , que o Sr. António da Graça ? Barbeiro de profissão era revendedor em Peniche , tinha adoecido e ele agora estava aflito pois tinha o jogo todo que tinha mandado vir e não tinha ninguém que o pudesse vender na rua e assim disse ao meu irmão se eu poderia tentar vender naquela semana .
Fiquei quase aflito pois não me estava a ver bem a vender jogo de lotaria .
Eu queria era ir trabalhar para o mar que e eu tanto adorava mas com os meus poucos mais de doze anos ainda tinha muito que esperar pois só podia matricular nos barcos com catorze anos .
Eu era um rapaz muito incorporado, não gordo para minha idade e todos me diziam que já estava um autentico homem .
Todas as semanas fazia a medição., com um metro de madeira no barrote mestre da minha habitação e semana a semana verificava quantos centímetros eu crescia e já tinha 1 ,72 m de altura.!!!.
Eu vivia numa casa apalaçada na zona rural perto ao Senhor no Calvário , com quatro divisões que tendo o barrote mestre como suporte principal servia de suporte também ás cordas que faziam as respectivas divisões dos quatro quartos em que a casa estava dividida .
As divisões estavam divididas entre si com paredes formadas com sacas de serapilheira grossa embebidas em cal amassada a qual dava uma forte rigidez e apresentavam sempre um aspecto lindo e limpo pois parece-me que sempre de duas em duas semanas eram caiadas .
A construção do meu palácio foi feita com paredes exteriores de costaneiras –
primeira peca dos troncos quando são cortados paralelamente e que ficam com vista uniforme parecendo troncos de arvores primitivos que no caso também eram as mais baratas .
Já fora da casa e aproveitando a parede sul da casa foi construída uma sala aonde tinha o forno caseiro e fornalha , lareira que também servia para confeccionar as refeições familiares e aonde se comia
Na traseira do edifício estava a retrete móvel a qual era removida e mudada de lugar depois desta se ter acabado de encher com terra e assim os seus detritos esperavam para serem levados para estrume nas terras da fazenda .
Foi muito a contragosto que acedi vender a lotaria da semana mas a medo ainda disse : Só esta semana ….
Na outra semana lá tinha chegado outra remessa e com a agravante de que , como eu tinha vendido as cautela todas em três dias chegaram quase o dobro das que tinham vindo anteriormente .
Desde a primeira vez que entrei numa taverna numa rua paralela á parte sul da Igreja de São Pedro e no topo da rua que passa quando se sobe o Posto da Guarda Republicana para o largo da Fortaleza o dono dessa taberna ao ver-me entrar com o jogo na mão interpelou-me dizendo para mim :
Ouve lá rapaz , não tens vergonha de com tanta saúde estares a vender lotaria? Deixa lá isso para os aleijadinhos e doentes !!! ….
Como é natural não disse nada , o cliente ou neste caso o dono da casa tem sempre razão mas se não me encontrava satisfeito com o andar a fazer este favor ainda mais me tornei agressivo com o meu irmão que me dizia que era só mais umas semanas mas elas passavam e ninguém vinha ocupar o meu lugar .
Um dia enchi-me de coragem e disse para o meu irmão .
Dou mais um mês e se não houver ninguém para vender o jogo mesmo que o jogo venha eu não o vendo….
Continua
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
Fielamigodepeniche.blogspot.com
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