domingo, 23 de setembro de 2012

As folhas no meu Destino

                                                      



                                                             As folhas no meu Destino

Continuação
                     Terceiro Capitulo
          
                                                            Mais perto de Lisboa

         Do Turcifal , atravessando  eucaliptais  e pinhais  durante possivelmente mais de uma hora  cheguei novamente  á estrada Nacional 8  ao romper da aurora e digo-vos que foi sempre debaixo de uma tenção forte que quando  junto de mim se levantava uma perdiz , mocho  ou qualquer estridulo , ou piar de uma ave  que eu vibrava de uma maneira muito estranha . e digo mesmo receosa .
        O meu primo António deu-me um cajado na pior hipótese de encontrar  um cão , raposa  ou mesmo um simples texugo  que fugindo de mim talvez me desse a sensação que me quisesse atacar  e se isso sucedesse teria o cajado para me poder defender melhor
Também  nos tropeções que ia dando pelo caminho esventrado o cajado de marmeleiro foi um auxilio que em algumas vezes  evitou que eu me estatelasse no chão e que possivelmente consequências graves me pudessem acontecer .
         O meu primo António  foi peremptório :
Se não saíres desse caminho daqui a pouco mais de uma hora estarás na Nacional 8 e depois é   seguir em frente  ….    E assim foi .
         Sem mais delongas e abandonando os meus pobres  restos dos sapatos  , já sem solas  sendo as  “almas “ - parte interior entre a sola do sapato e a parte superior  que a palmilha  compunha o formato do sapato, eu estava familiarizado com a nomenclatura do sapato ,pois  o meu cunhado e Padrinho fabricava sapatos lindos de ponta a ponta  mas felizmente não trabalhava para fora  e eu já até  punha meias solas as quais ele dava os acabamentos finais –as “ almas” também  já estavam completamente destroçadas vi me obrigado a deita-los fora .
       E assim quase á noitinha cheguei a Lousa  e desviando-me para uns terrenos junto  a estrada ,escolhi o melhor sitio para aliviar as minhas necessidades fisiológicas .
Já quase novamente próximo da estrada , parei e comecei a explorar as condições do terreno aonde eu estava .  Pensei  que  debaixo duma daquelas árvores ,seria um local apropriado para dormitar aquela noite  e descansar os meus fatigados músculos que tanto tinham sido maltratados
 Estava eu nesse reconhecimento do terreno quando vi que ainda um pouco longe uma pessoa avançava para o local aonde eu estava parado. E com a aproximação verifiquei que era um homem alto bem proporcionado o qual ao passar por mim me deu a salvação.
        Aproveitando-me desta sua fraternidade , pedi desculpa e fiz-lhe uma pergunta  :
        Senhor , desculpe me eu  interromper a sua caminhada  mas na sua opinião acha que se eu descansar esta noite debaixo de uma destas árvores , o dono deste terreno levará  a mal ?
        Parecendo-me que olhando –me de alto a baixo com fixação indagou :
Tu queres dormir esta noite aqui no chão ?
 Se não fizesse mal eu não me importava, o tempo está  bom e está calor … .
- De onde és tu  ?
-  Eu sou de Peniche  e vou para Lisboa arranjar trabalho .
 -E vens a pé ?
 - Sim Senhor ,,,,
 - Como te chamas ?
- Manuel Joaquim Leonardo …..
 - Manuel se tu quiseres vais dormir no chão da minha cozinha que é o que te posso oferecer mas assim ficarás dentro de casa  e em cima de um colchão .
        Disse-lhe agradecendo que aceitava e agradecia a sua oferta. e após poucos minutos  já estávamos  dentro de casa .
         Esse Senhor acendeu o seu candeeiro e poisando-o em cima de uma pequena mesa único móvel que ornamentava aquela dependência   , disse-me para eu me sentar na única cadeira que me pareceu existir na casa  e saindo de casa voltou dentro de um ou dois minutos com um mocho – tronco cortado de uma árvore que servia de banco -.
 Levantei-me e disse-lhe que se assentasse na cadeira  que eu me assentaria no mocho , Com voz  forte  ordenou-me para eu ficar sentado .
_ Já jantas -te ?
E seguindo com a conversa disse ,eu já jantei e agora só tenho o lanche para levar para o trabalho mas se quiseres eu posso-te dar uma para ti
Respondi-lhe que já tinha comido também   e aproveitei para tentar manter  conversação com ele e perguntei-lhe  : trabalha fora da aldeia ?
 Eu trabalho , sou soldador no Estaleiro Naval de Lisboa  vou e venho todos os dias para Lisboa 
 -O meu irmão também é soldador numa fabrica de peixe, soldas as latas e afina as maquinas de por tampos quando estas se avariam  e faz quase  tudo na fabrica em Peniche
- Eu sou soldador mas trabalho nos navios grandes ou pequenos mas chama-se  Estaleiro Naval pois faz-se reparações nos navios e fazem-se navios pequenos em ferro .
Que idade tens  Manuel .? Sabes ler e escrever ?
Pouco mais de doze anos  mas sei ler e escrever, tenho a quarta classe com distinção .
Estive em Lisboa desde os meus 5  até aos 12 anos de idade e sempre na escola mas agora a minha irmã e Madrinha faleceu e eu tive que voltar para Peniche
Se tivesses catorze anos talvez te arranjasse.  trabalho pois tu dizes que tens a quarta classe . Olha vou-te dar alguns conselhos pois tu vais tentar trabalhar para Lisboa mas tem cuidado com os patrões que arranjas . Se não te sentires bem com o patrão que tiveres . não saias logo do trabalho sem arranjares outro emprego mas luta sempre pelo teu trabalho e ajuda sempre os outros  se poderes .
 Parece-me que não tens sapatos mas lembra-te que se fores apanhado a andares descalço em Lisboa a policia apanha-te e leva-te para a Mitra
Compra um par de alpergatas amanha  e se quiseres poupar as alpergatas andas só com uma nos pés . quando aquela estiver estragada calcas a outra  e assim a policia não te pode levar preso.  As pessoas que andam a vender nas ruas usam sempre essa estratégia Tem sempre cuidado com a policia pois se cais uma vez eles nunca mais te largam da mão .
E dizendo-o isto fui buscar ao seu quarto um pequeno jornal e começou a ler as suas poucas paginas  a luz do candeeiro,estando nessa leitura talvez uma hora .
Achei engraçado o nome  das folhas ou jornal que chamava-se o Avante
 Finalmente disse-me que tínhamos que ir dormir  mas antes de se ir deitar agarrou numa pequena pá de ferro foi para lareira pôs a papá dentro da lareira com o jornal e incendiou o jornal esperando que todo o jornal ficasse bem em cinzas ,saiu para fora de casa só voltando dai a uns poucos  minutos  sem as cinzas queimadas do Jornal .
Só no outro dia de manhãzinha é que reparei bem na fisionomia de quem me tinha ajudado :
 Um Homem de talvez quarenta anos ,de boa compleição física  ia vestido para o trabalho de calça e camisa de ganga escura e também com um casaco de ganga mais forte também escuro, boné na cabeça     Como recordação deixei-lhe o cajado ,oferta          do meu primo António
Penso que também nunca mais o tornei a ver.
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
23 de Setembro de 2012                           Continua  …..
P.S.
O Avante , Jornal  comunista na clandestinidade a partir de 1941 começou a ser editado quase regularmente todos os meses .
Em 1937 A C.U.F. de Alfredo Silva  ganhou  a concessão  do Estaleiro Naval da Administração Geral do Porto de Lisboa
Fonte : WIKIPÈDIA
P.S. Nunca soube o nome deste SENHOR porque me ensinaram que quando nós damos o nosso nome completo a alguém e essa pessoa não dá logo o seu nome nunca se deve perguntar mais o seu nome .
Este Grande Senhor  habitava num género de bairro á entrada Norte para o sul na vila de Lousa ?
Esse bairro ficava junto á Estrada N- 8 não tem janelas na parte de baixo ao longo do edifício mas sim algumas  janelas na parte do edifício superior parece que a frente desse edifício seria virada para Este e é ao lado esquerdo mesmo quando começa o casario e quando se vinha dessas habita coes para a estrada N-8 tinha-se que descer uma saída com escada

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