domingo, 30 de setembro de 2012

as Folhas do meu Destino

                                                                                                                                     


                                                                    As Folhas do meu Destino


                                                             Regresso a Peniche

         Depois de quase três semanas de estadia em Lisboa  estou de volta a Peniche
 Conheci a vida de candongueiro que nada me seduziu  depois de fazer diversos contactos acerca de possibilidades de trabalho em Lisboa os quais estavam  limitados pela minha idade  só me apareceu trabalho de moço de fretes , carvoeiro  e tavernas , mercearias para levar encomendas aos fregueses com cabazes ás costas até  ao quinto andar ,mal comidos dormidos e mal pagos  resolvi regressar á minha já amada Peniche .
        Na Papelaria Fernandes aonde trabalhavam  já dois” paquetes “ - jovens rapazes que faziam diariamente  as muitas entregas de livros e produtos  de livraria e de  escritório -na época a mais importante do País davam-me lugar se qualquer rapaz saísse a qualquer altura .
       Na candonga já tinha sido seguido pela  policia e se não fora uma jovem criada deixar. me sair pela porta da frente teria que nessa noite dormir na Mitra e o pior ainda seria desaparecer todo o dinheiro que tinha em meu poder o que para mim seria inacreditável mas já tinham havido muito casos desses abusos que as pessoas não se queixavam  com medo a represálias . Depois de agradecer a minha estadia aos meus Amigos Cristina e Pina que não me levaram nada pela minha estadia e que até queriam que eu ficasse por mais tempo embora eu oferecesse  alguns dos comestíveis que eles tinham mais dificuldades de encontrar na cantina da Imprensa Nacional , eram favores que eu não podia pagar .na ultima madrugada lá fiz bicha em alguns postos de abastecimentos mas como pensei ir a pé ate Torres Vedras e ai acabar de vender mais algumas mercadorias , não vendi todas para a  chegar a casa com algumas  e ai apanhei a ultima camioneta para Peniche. 
       Deixei a “ nassa “ que meu irmão me tinha deixado em Lisboa que vós não calculais  o jeito que me fez ao longo da minha estadia em Lisboa , com a minha bagagem em cima da mesa da casa de fora ,abri a porta com cuidado que como de costume estava na aldraba e com a claridade das estrelas verifiquei que a minha cama estava feita , composta como  esperando por mim! 
       Sorrateiramente deitei-me, o mais silenciosamente possível e certamente alguns minutos depois já estaria dormindo junto dos Anjos que me  tinham acompanhado naquela tão longa Viagem
      Subitamente acordei aos gritos da minha irmã Beatriz que chorando dizia  :
      Mãe , o Manecas está aqui na  cama !!!! ,  
 Chorando todos  me queriam abraçar , enquanto eu suave e silenciosamente acompanhava  com  lágrimas  aquele hino Celestial ….
Agradecido meu Deus ! .
                                         

    Ninguém me recriminou pessoalmente pela  atitude , desastrada e desumana   situação  que tinha feito passar toda a minha família  e eu nunca o esqueci ou esquecerei .
 No outro dia logo perguntei á minha irmã Beatriz ,como tinham passado na minha ausência e ela  dentro coisas de somenos importância  disse-me  :
-Olha ficamos aflitos  pois a nossa irmã Jesus foi presa   durante três  dias e duas noites……. 

         Naquela época existiam , muitas e muitas fazendas cultivadas na nossa Peniche  umas com muitas arvores de frutos , vinhas   - o vinho branco de Peniche era um dos vinhos famosos de Portugal ,só que era só para nosso consumo e poucos portugueses sabiam verdadeiramente – outras com as mais diversa searas  que ocupavam  - pouca  mão de obra de pescadores -  mas  bastantes agricultores e gente do campo.
      De uma maneira geral as propriedades eram divididas por altos muros de pedra que se alongavam ao longo dos diversos caminhos que cruzavam  Peniche em todas as direcções possíveis e imaginarias .
Para alem desses muros altos haviam outros proprietários  que já tinham muros mais baixos para fazerem os seus limites de posse das suas propriedades  ou simples divisórias de caneiras ,  simples caniço, ou pouco mais .
Nessa altura eram identificados os proprietários de maiores posses consoante a altura de muros da pedra que circundavam as sua propriedades ou como estes eram feitos
      Por esses caminhos circundantes muitas pessoas viam-se obrigadas a passar junto
 das ramadas que saíam da periferia dos muros  e ficavam á mão de quem passava e assim era colhida alguma fruta que teimava em se fazer cobiçar
     Nessa hora de almoço que minha irmã Jesus ia levar ao nosso Pai ,era obrigada  a passar por uma área em que diversas arvores deixavam cair os seus ramos e respectivos frutos para o caminho e pensou quando voltasse para trás apanhar alguns frutos  dessas ramadas .
 E se o pensou melhor o fez….
 Para azar dela o proprietário  e o caseiro parece que já estavam esperando quando ela regressasse e  a ramagem mexesse do lado de fora para gritarem  e irem fazer queixa dela ao Sr. Administrador e ela pelo crime de roubar fruta que estava exposta no caminho  apanhou três dias e duas noites de prisão  !!!.
A minha irmã Jesus tinha 16 anos de idade 
                                           
                      Pensei logo que era uma injustiça para uma pessoa que apanha fruta num caminho publico que vai a passar , ir para a cadeia !!!.
 No dia seguinte em conversa com os meus Amigos  contei-lhes a historia  .
Uns sabiam – na , outros não  e calmamente disse-lhes  :
Amanha eu vou rapar a fruta toda que estiver no caminho desse senhor , amigo do Sr. Administrador e depois vou á Câmara dizer a ele que tirei a fruta toda que estava no caminho  e que quero ir preso como a minha irmã foi para a cadeia de Peniche  por apanhar fruta naquele caminho .
Mas gostava de ir com companhia para lá estar na brincadeira todos os dias e todas as noites ….
O Toino   Risota  perguntou-me  : tu és capaz de fazeres isso Manel ? Se tu fores também eu vou….
 E numa risota pegada outros mais se fizeram voluntários em demasia .
Logo no outro dia partimos para a Câmara Municipal de Peniche eu e mais 5 companheiros que ficaram á porta da Câmara enquanto eu subi para falar com o Sr. Administrador .
Na câmara disseram-me que o Sr. Administrador tinha ido para a Fortaleza  e eu saindo logo fui a Fortaleza para falar com ele e disse aos meus companheiros  que não arredassem pé dali que eu já vinha . Chegado á fortaleza a sentinela guarda disse-me que ele já tinha saído e provavelmente estava na Câmara
             Eu não o conhecia e possivelmente  trocamos os caminhos pois eu não me lembrava de o ter visto no caminho.
           Pedi para falar com o S. Administrador e fui logo atendido
 Sr. Administrado eu e mais cinco rapazes passamos por um caminho que tinha as ramadas caídas com fruta e apanhamos toda, agora queremos ir para a cadeia como a minha irmã foi.. Estava a falar e ele estava muito admirado do que eu lhe estava a dizer Fiz uma pequena pausa e ele disse-me :
Vai –te embora daqui  já , meu comunista ….
 E foi esta a primeira vez que ouvi chamarem – me COMUNISTA
Com os melhores cumprimentos  do
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada       fielamigodepeniche.blogspot.com
30 de Setembro de 2012

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