O meu Portinho do Meio
O
reencontro com o meu Portinho do Meio nunca me foi muito desejado pelas poucas boas recordações que eu
tinha com ele e as que tinha eram
somente minutos molhando os pés numa Prainha imunda que apesar de perto de um areal imenso aberto ao
mar de uma areia branca prateada
que logo na saida da embocadura do Portinho do Meio fazia a delicia dos poucos veraneantes que
frequentavam na época a praia de Peniche ( 1941)
Mais ao longe acerca de pouco mais de
mil metros já defronte aos Medoes Grandes
, a já' elite de Peniche e os forasteiros que nos visitavam montavam umas insípidas
barracas e toldos que na ocasião se contavam pelos dedos das mãos e já fazendo a demarcação das classes se deliciavam nas suas aguas cristalinas , na imensidade do areal que se avistava ate a’ Consolação .
A praia dos Medoes com uma inclinação suave em que se entrava pelas aguas dentro ate ao pescoço sem perdermos o pé’ , as Praia Norte de Peniche de Cima e Baleal eram as praias mais lindas e seguras de Portugal já’ nessa época, e terra inspiradora de escritores ( Raul Brandão 1867 -
1930 )… e poetas sendo nos dias de hoje a delicia dos nossos
magníficos fotógrafos. prata da casas e
centenas de outros que nos visitam
No Portinho do Meio nos dias das grandes
pescarias em que as já traineiras
enchiam o pequeno porto de Peniche
varando as areias ate a’ porta da taverna do Capadinho , quando
em maré de enchente as embarcações que chegando mais atrasadas ao porto , tentavam fazer a sua descarga no
Portinho do Meio.
E era vê-las
sempre com o motor a trabalhar tentando passar a Ponta da Investida para poderem tomar a melhor posição para sempre forçando , num roncar de motores , acompanhar a maré de
enchente e assim facilitar a descarga do
seu pescado .
Com o constante trabalhar das hélices
formavam –se grandes fundões que era a
arrelia dos pescadores que descarregando os cabazes com agua às vezes ate ao
pescoço iam caindo nas suas covas
ficando submergidos ate conseguirem ganhar pé e poderem andar mais
rápidos no vai e vem da sua descarga .
As tripulações das traineiras tinham uma
regra de rodagem entre si dos serviços que de cada vez que traziam
pescado eram servidos rotativamente pelos pescadores e assim haviam
principalmente três cargos definidos que
eram seguidos a’ risca :
Serviço nas cavernas que designavam aqueles pescadores para
apanharem o peixe no convés ou nos porões enchendo os cabazes para serem
descarregados para fora do barco.
De
seguida eram os pescadores “homens da agua “que recebiam os cabazes dentro
da agua e levavam os cabazes do peixe
ate passarem os cabazes para os outros pescadores já em seco que os levavam ate aos armazéns destinados, cujos tinham
comprado o peixe .
Haviam também os “ homens das chapas “ que
tinham por missão receber por cada cabaz um chapa indicativa de modo
diferente de cada comprador para assim saberem quantos cabazes tinham
sido descarregados naquele definido armazém .
Naquela época o pior trabalho na descarga
do peixe era aquele em que os pescadores carregavam os
cabazes dentro de agua e passavam aos
pescadores já em seco.
Embora sendo um trabalho rotativamente feito pelos pescadores
muitos falavam a outros homens de terra e principalmente das terras próximo que alguns ate faziam
disso modo de vida em complemento com
algumas culturas que faziam nas suas
aldeias .
Esses
descarregadores eram pagos pelo valor
dos carretos que os pescadores em serviço de “homem de agua” recebiam que assim
perdiam aqueles escudos que tanta falta lhes fazia mas entendiam que era melhor
para a sua saúde não fazerem esse serviço dentro de agua .
Nessa data eu tinha 12 anos de idade e chegado de Lisboa ,era um homem feito já
tinha quase 1,70 cm de altura mas não
tinha trabalho e fui fazer a descarga dos “homens de agua “ e senti com essa
idade quanto de difícil e cruel era a descarga do peixe dentro de agua .
Numa maneira geral a descarga do peixe em Peniche
era feita de noite ou logo de manhãzinha
.
Nas noites
ou nas manhas frias de inverno era sempre com um frio cortante que nos cortava a pele a’ saída da agua – sentíamo-nos
melhor
dentro de agua – mas quando saímos
da agua para entregar os cabazes corríamos
logo de volta para dentro da agua
se havia alguma demora na entrega dos cabazes ,
E assim ate parte dos meus treze anos de idade foi o trabalho
que fiz descarregando milhares de
cabazes das mais diversas espécies de
peixe ou trabalhando no convés ou porões
das traineiras de Peniche
Como
medalha destes meus bons serviços e
durante os muitos anos que descarreguei peixe nas nossas traineiras ganhei um
calo no ombro esquerdo de cerca de 3X5
X3 cm de altura que ainda ate aos meus
60 anos de idade fazia parte da minha estrutura física e que ainda hoje verificando minuciosamente
se nota .
E foi com a linda publicação no Blogue
Cabo Carvoeiro do distinto fotografo Carlos Tiago que vendo aquelas covas me
lembrei dos tempos passados mas e’ também com imensa consternação
que verifico que todo o trabalho que tem sido feito na recuperação
estética do Fosso das Muralhas esta’ a
ser inglório, pois por essas fotografias publicadas no Blogue , se vê o quanto
de errado la foi construído ou reparado.
Eu estava la
em Peniche e assisti a’
apresentação do plano descritivo e
diversos planos de execução ,com a
devida pompa e circunstancia e quando me
foi possível dar palavra fiz umas observações
e ideias esquisitas que não caíram bem em alguns dos assistentes .Mais uma vez
todos aqueles que me depreciaram infelizmente na ocasião podem confirmar que eu estava vendo os problemas como deviam ser vistos para bem de Peniche e
de todos os executantes envolvidos no projecto
Talvez seja assunto para ventilar num futuro próximo pois como
sempre talvez ninguém me vira contradizer .
Ate sempre com os melhores cumprimentos assino
Manuel
Joaquim Leonardo
Peniche
Vancouver Canada
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